sábado, 7 de janeiro de 2012

I kiss girls and I like it. So what?

Ser alvo de preconceito, por seja lá qual motivo, é um inferno. Ser alvo de preconceito quando o motivo é amor é um inferno sem sentido. Você sabe o porquê daquilo tudo, só não entende esse mesmo porquê. E, numa sociedade que não suporta que você ame o diferente (uma loira com um negro? Um jovem com uma velha? Uma alta com um baixinho? Não, não, não é natural), quando você decide amar alguém supostamente igual, do mesmo sexo, é mais recriminação da sociedade que você recebe.

As pessoas não percebem que o preconceito é o que mais dói. Não poder beijar minha namorada em público, não poder andar de mão dada com ela na rua e receber olhadelas estranhas quando fazemos um dos dois... Isso é o pior. Isso quando desconhecidos não chamam a nossa atenção, mesmo quando só estamos falando no telefone uma com a outra. Que mania infeliz de se meter na vida dos outros! Cada um deveria saber o que é melhor para a sua respectiva vida... E o mais triste é que você até entende seus pais te recriminando. Mas pessoas aleatórias que você nunca viu na vida NÃO! 

Eu acredito que só passei por um caso de preconceito levemente descarado. Eu e minha namorada fomos no cinema e demos o azar de sentar ao lado de um casal de quase idosos. Eles deveriam ter uns 60 anos. Não fizemos nada, só dois selinhos discretos e mãos dadas discretamente. Foi o suficiente para o homem começar a pigarrear loucamente e murmurar "absurdo". Íamos trocar de lugar assim que as luzes apagassem, mas eles foram mais rápidos que a gente e saíram de perto. Melhor do que a gente ter que sair, mas, bem, seria bem melhor se pudéssemos todos assistir ao filme no lugar que escolhemos. 

I have a dream. Acho e espero que seja só questão de tempo, algumas décadas talvez, até que nós, gays e lésbicas possamos andar normalmente pela rua com nossos namorados e namoradas, respectivamente, sem risco nenhum. Assim como as mulheres e os negros a partir da metade do século passado, a nossa vez vai chegar. Yeah, you may say I'm a dreamer, but I'm not the only one...


quinta-feira, 9 de junho de 2011

The wind of change

Às vezes eu penso se Mr. Eça de Queirós não estava certo...

Eu desci do ônibus em meio a uma ventania incomum. Não estava frio, o vento não estava cortante... Mas o clima estava um pouco assustador, de um jeito não propriamente ruim. Eu só estava assustada porque não sabia o que ia acontecer em seguida. Como algo pode ser tão confortante e assustador ao mesmo tempo?

O céu estava limpo, não ia chover. Era só o vento. Nada de ruim ia acontecer. Era só a mudança que era tão arrebatadora quanto aquele vento. Não era um furacão destruindo vidas, mas não era só uma brisa refrescante. Era um vento forte, intenso, assustador por nunca ter sentido nada daquele jeito, mas confortante por saber que tudo ia ficar bem.

You are my wind of change. Let me be your windmill.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Letter to someone else (an aswer)

"Eu sei que vc tem medo de amar. Quem não tem? Dizer "eu te amo" é assumir o risco de se decepcionar e de sofrer - independente se é para amigos, namorado.. - mas, renunciar esse sentimento é assumir a indiferença. Quem não se rende ao amor, nao sofre. Mas, não há como evitar o sofrimento sem evitar a felicidade.

"Sometimes life hits you in the head with a brick", but we're supposed to keep moving on. Ninguém é igual a ninguém. Fico feliz de saber que, comigo, esse medo de amar é menor. Mas o que eu quero, de verdade, é te ver preparada para amar os outros, também. "The only thing that kept me going was that I love what I did". Pode parecer clichê, mas o amor é o que nos move; amor a alguma coisa ou a alguém, mas sempre o amor.

Eu sei que vc tem motivos para não acreditar no amor, mas sei que voce tem razoes para acreditar na amizade e esta é nada além que uma variaçao daquele. Another kind of love, but love, still.

E sempre que vc tiver esquecido de todas essas razões, eu estarei aqui para te lembrar, minha irmã."

Eu não sei se o correto a dizer é: “eu estou com medo do amor” ou se é “eu não acredito no amor”. Como costumamos temer coisas que não existem, acho que minhas angústias blasés pelo menos fazem sentido.
Ao dizer que acho que não acredito mais no amor, me sinto mal, livre e presa ao mesmo tempo. Livre de ter que encontrar alguém e presa porque, bem, ficarei presa a mim mesma, não me dividirei com ninguém. Me sinto mal porque é como dizer para uma criança que o Papai Noel não existe. Eu sinto como se destruísse os meus sonhos da infância. De repente, o “querida, cheguei!” já não me parece tão atraente. Mas a vida solitária também não me atrai. Eu não quero cair no estereótipo da vida burguesa, com um apartamento bom, um carro bom, terninhos bons, um marido bom, bons filhos, uma boa vizinhança... Isso seria uma catástrofe, acho que seria o possível esvaziamento do meu sujeito. Mas, ao mesmo tempo, não suporto a ideia de ficar em casa, na minha poltrona de couro marrom, entre a luz de abajures, com a companhia de 4 gatas e um copo de uísque. Ficar com os meus pais até os 30 anos está fora de cogitação.
O amor não existe. Namoros e casamentos estão fadados ao “fracasso” (porque não precisa durar para ser bem-sucedido). Porque um vai sempre amar mais um do que o outro, e esse que ama menos ou que não ama vai fazer alguma bosta monumental e vai arruinar tudo, inclusive vidas. Amor é uma felicidade ilusória e, quando você percebe isso, você sente uma dor real.

“Sejam burros e felizes”. Ah, por que eu não segui esse conselho? Um pouquinho só de inteligência é um problema gigante. Se eu fosse burra (ou mais inteligente, não sei), conseguiria estar por aí, ainda acreditando que meu príncipe um dia chegaria. Enquanto o príncipe não chegasse, eu estaria sofrendo na mão de sapos-vilões.
Eu tenho medo de amar porque amor é entrega de si mesmo, e eu não posso ficar vulnerável de novo. Se eu nunca for pra praia eu não sentirei a sensação deliciosa que é ter o sol batendo na minha pele – mas também dificilmente pegarei um câncer de pele. Não tem como evitar o sofrimento sem evitar a felicidade também, eu sei, mas, no momento, eu preciso evitar o sofrimento. Acho triste ter um coração de pedra, mas não posso ser humana por enquanto. Eu não vou aguentar passar por tudo aquilo de novo. E eu sei que cada um é cada um, mas, se aconteceu com uma pessoa que eu nunca, em hipótese nenhuma, diria que faria isso comigo, o que impede que aconteça de novo? A verdade é que a gente não conhece e nunca vai conhecer bem o outro, ou até nós mesmos. E eu entendo o outro, mesmo, mas ainda assim o culpo – apenas para manter uma fina sanidade mental. Sabe como é, todos nós precisamos culpar alguém...
Com amizades é diferente. Felizmente nunca fui sacaneada por amigas(os), então ainda consigo amar minhas amigas, mas sempre com um pé atrás. Acho que nunca mais (e isso não é uma hipérbole) nunca mais conseguirei confiar plenamente em alguém, por mais minha amiga que a pessoa seja. Acredite, eu não confio plenamente nem em mim. 
Ah, eu poderia ficar aqui o dia inteiro escrevendo sobre o que eu sinto e o assunto nunca se esgotaria... mas cansei de escrever. Então eu só quero agradecer pelo seu amor e pela sua paciência, sis. Do fundo do meu coração meio de pedra. Eu te amo, sim, mas é um amor diferente e estranho.
Obrigada por tudo :)

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Diálogo imaginário

Chegara mais cedo que o de costume e fora sentar ao sol no degrauzinho onde ela sempre sentava. Tirou o texto da pasta e esperou, com o coração batendo rápido demais para que conseguisse se concentrar em qualquer coisa. Seus olhos estavam no papel, mas, de vez em quando, ela levantava os olhos para ver se ela estava chegando. Até que, finalmente, ela veio se aproximando.
Vestia um jeans skinny, uma baby look preta que deixava sua tatuagem parcialmente à mostra e, nos pés, trazia um par de All Star. Enquanto ela chegava cada vez mais perto, Tay repassava na sua cabeça todo o diálogo que estava prestes a entabular. Ela lhe lançou um olhar de relance e sentou-se a menos de dois metros de distância, o que fez o coração de Tay disparar mais ainda. Deu um tempo para que ela pegasse seu habitual cigarro e começasse a fumar. Quando ela já tinha fumado o seu cigarro pela metade, Tay decidiu que era agora ou nunca.
- Ahn, oi... Eu adorei a sua blusa, onde você comprou?
Ela ficara meio sobressaltada a princípio, mas logo recuperou a sua expressão blasé e seu sorrisinho no canto esquerdo dos lábios:
- Acho que foi numa loja na Galeria do Rock.
- Ah, que pena, eu nunca fui a São Paulo... Mas definitivamente tenho que ir na Galeria um dia, é meu sonho de consumo adolescente – sorriu, reunindo uma coragem que ela duvidava que tivesse. – Meu nome é Taylor, prazer em te conhecer – disse, estendendo a mão.
- Karla, prazer – disse ela, apertando a mão estendida e fazendo com que um súbito calor formigante tomasse conta do corpo de Tay.
- Então, você faz o quê aqui? – Tay perguntou, mas já sabia a resposta. Já sabia o nome dela, o curso, a idade, mais ou menos o período em que ela estava, seus filmes preferidos e até as festas que ela frequentava. Santo Google.
- Psicologia.
- Ah, que legal! Eu ainda quero fazer psicologia um dia, acho muito interessante...
- E você? O que você faz?
- Letras.
- Legal, legal – essa era a “reação-padrão” de todo mundo, então Tay não se desanimou com o desânimo dela.
- Em qual período você está?
- 5º, 6º, não tenho certeza... E você?
- 3º. Você já está estagiando aqui, atendendo pacientes lá na vila?
- Não, não, só no 8º ou 9º período, só quando eu estiver me formando.
- Entendi...
E o silêncio maldito e constrangedor se instalou. Felizmente, o cigarro de Karla tinha terminado e ela estava se levantando pra ir embora.
- Preciso ir pra aula... – Karla disse de forma pesarosa.
- Ah, ok, eu tenho que ler esse texto também. Prazer em te conhecer! Boa aula.
- Valeu, bom texto. A gente se esbarra por aí – Karla disse, e era impressão de Tay ou o sorrisinho dela estava mais acentuado do que ela jamais vira??

terça-feira, 3 de maio de 2011

The wedding


Ao contrário do que possa parecer, não estou escrevendo isso pelo casamento real que aconteceu na última semana. Na verdade, não vi nenhuma cena do casamento. Estou escrevendo porque, por acaso, na 6a feira fui num casamento (que, repito, não foi o real) e isso me deu muito no que pensar.

Primeiro que a cerimônia me parece muito "tradição pela tradição". O vestido branco representa(ria) a "pureza", a "inocência" (leia-se virgindade) da noiva e, FALA SÉRIO, quem se casa virgem hoje em dia??? E a entrada dos padrinhos na igreja? Todo mundo andando devagarzinho, com uma cara estranha... No meu casamento meu vestido vai ser pink/violeta/turquesa e os padrinhos vão pro altar cantando, tipo no casamento do pai do Kurt com a mãe do Finn, em "Glee". Okey, eu posso não ter padrinhos tão talentosos ou tão caras de pau que aceitem cantar, mas aquela entradinha tradicional definitivamente NÃO VAI acontecer!

E vem a parte religiosa. Nada contra se é naquilo que você acredita, se você realmente quer que Deus abençoe seu casamento e tudo o mais. Mas na grande maioria dos casamentos que eu vou ninguém tá nem aí pra religião ou pra bênção divina. Só estão ali porque é assim que se faz ou que se deve fazer um casamento. O padre pergunta se eles prometem criar os filhos dentro das leis de Deus e eles dizem sim... Mas você sabe que eles não vão criar, assim como eles mesmos, o padre e mais todo mundo sabe também. E, por falar em prometer, tem a parte que eu acho a mais bizarra: o prometer amar por todos os dias da vida. Meu filho, tu não sabe o dia de amanhã! Como você vai prometer algo que você pode não cumprir?? Naquele momento específico a sua noiva pode parecer a melhor criatura do mundo, mas amanhã você pode encontrar outra pessoa. Sorry, it's sad, but it's true.

E o pior é que eu geralmente vejo as pessoas se casando muito incertas de tudo. Elas chegam na igreja com aquela cara de "QUE MERDA QUE EU TÔ FAZENDO COM A MINHA VIDAAAAA?". Elas meio que acham que precisam se casar, não importa com quem. Você não sonha com casar com o seu namorado, você sonha em se casar, intransitivamente. Casamento não deveria ser uma necessidade primeira, deveria ser um desejo nascido de uma convivência e um amor incondicional. Mas sei lá né, é só minha opinião...


sexta-feira, 29 de abril de 2011

Tédio...

Eu não sabia ver que aquilo era amor delicado. E me parecia o tédio. Era na verdade o tédio. Era uma procura de alguém para brincar, o desejo de aprofundar o ar, de entrar em contato mais profundo com o ar [...]
A paixão segundo G.H. - Clarice Lispector



 O que eu vejo e sinto hoje não é amor, é tédio. Eu não espero o amor surgir espontaneamente a partir na convivência, da espontaneidade, do tempo passado, da necessidade crescente de ter aquela pessoa (e não outra) ao meu lado, a cada dia mais. Não, eu procuro o amor, eu forço o amor, eu estupro a minha capacidade de amar para não ficar entediada. Porque eu não suporto o tédio, mais vale um amor criado pelo meu psicológico que ficar entediada.

Amor, paixão, simpatia, desejo, pegação - e tédio. Eu sinto simpatia e desejo, só desejo, só simpatia, e isso não é tédio. Mas o meu desespero em transformar paixão, simpatia, desejo e pegação em amor é puro medo do tédio. Mas o amor não precisa ter paixão, desejo e pegação, porque amizade é um tipo de amor. E desejo e pegação não precisam ter amor. But my fucking brain and my fucking heart keep forcing me... Mas eu não quero mais fazer isso, mesmo que faça inconscientemente.

Foda-se a música do Frejat. Eu NÃO VOU procurar um amor que seja bom pra mim, eu não vou procurar, eu não vou até o fim. Foda-se. Detesto admitir, mas estou muito mais pra Cláudia Leitte agora e eu quero mais é beijar na boca.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Um passo

Minha maior aproximação possível para a distância de um passo. O que me impede esse passo à frente de ser dado? É irradiação opaca, simultaneamente coisa e de mim. Por semelhança, nós nos repelimos; por semelhança não entramos um no outro. E se o passo fosse dado?

(Clarice Lispector - "A paixão segundo G.H.")